sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

2 meses - dedico a meus irmãos, os tios e os primos

Ando lendo o Livro "Mulher Perdigueira", do Fabrício Carpinejar. Ele chegou a mim através do Amigas do Livro, mas sobre o livro mesmo eu conto depois.
Acontece que muitos dos contos que leio nele eu lembro de gente minha. Muitas coisas me fazem pensar no meu relacionamento. Mas esse texto me fez lembrar tanto, tanto... que hoje completam dois meses e ainda é tão recente, né?
Então eu dedico esse texto do Carpinejar à minha irmã, ao meu irmão. Aos meus tios e, principalmente aos primos que nunca saíram da memória.


"CAIXA DE MENSAGENS
Prometi fazer faxina em minha caixa de endereços. Limpar os nomes duplicados, uniformizar os conhecidos, distribuí-los pelas suas cidades. Dediquei a manhã e a tarde para uma atividade que julgava cumprir em uma hora. Trabalho chato, porém indispensável. Assim como meu pai nos botava a retirar o osso do peixe para merecê-lo.
Encontrei o nome de um amigo falecido. Ao deletá-lo, apareceu a mensagem perguntando se tinha certeza daquilo.Vacilei. Era como se o próprio finado me questionasse se o apagaria da minha vida. Pressionado, ninguém tem certeza. Eu, muito menos.
Seria enterrá-lo de novo. Desprezar a sua lembrança.
Espiei os contornos da cortina, a caçar vultos se mexendo. Respirei fundo e tratei toda aquela suposição como bobagem, estresse. Ele não conseguiria responder, de que valeria manter seu nome para ocupar espaço? (E, na hipótese de retornar, ficaria dominado pelo pavor, ainda que fosse uma resposta automática.)
Mas o mal-estar não desapareceu com o meu realismo. Agravou-se.
Raspava o teclado como um soletrador de piano. Não pulava de tecla. Sentei em mim, denso, com as costas do mar em meus ouvidos. Bateu uma moleza de sesta, um aborrecimento antigo.
Caso eliminasse o amigo, poderia finalmente esquecê-lo.
"Não faz isso, Fabrício", falava comigo.
Evitamos recordar os mortos para nos afastar da morte. Só que ele não era a Morte, mas alguém que amava. Ou melhor, alguém que amo - meu amor não desapareceu com ele.
Desejava - sim, claramente desejava - sua sobrevivência em meu catálogo. Como uma resistência do seu suspiro, uma reserva de reza. Que os outros me considerasse, louco e distraído, não haveria problema. Não devia dar bola por conversar sozinho.
Toda vez que passava o mouse pelo seu e-mail, eu ria de algum momento feliz que experimentamos. De uma gafe. De uma provocação. Recobrava uma vontade de espiar nossas últimas mensagens. Pensava nele, seu nome já produzia eco. Pensar: um modo mais rápido de escrever.
Mortos e vivos são vizinhos em meu Outlook.
Não facilitarei o trabalho de Deus ou dos vírus."

Imagem daqui

Por que tem 10 anos e 6 meses que um se foi, mas nunca deixou de estar presente nas festas. E hoje completa 2 meses que o outro se foi e era quem mais respondia os e-mails do grupo da família, na casa dele. Mas tbm não será esquecido.

8 comentários:

Tina disse...

Migaaa, como é bom lembrar de quem a gente gosta, mesmo qdo eles nao estar juntos de nós, as coisas boas sempre ficarão na memória. Família é tudibom né.
Beijosss, boa sexta!!

Giuliana: disse...

Oi Telminha,

Passa-se tempo, mas jamais esqueceremos os nossos que já se foram, ficam o amor, os sentimentos, as boas lembranças, o que ficará sempre gravado em nossos corações.

Beijos

Andreia Lica disse...

Sempre é bom recordar daqueles que se foram com alegria. Isso prova que a sua passagem deixou saudades e que juntos os momentos foram felizes.

Bjão

Patrícia Gomes disse...

Se há uma coisa que amo em ser humana é justamente essa nossa capacidade de lembrarmos sempre de quem amamos e ainda mais com o devido carinho e respeito que merecem...

Já vi que vou me emocionar horrores quando esse livro chegar até mim... ;oD

Xêros, bonita e bronzeada frô! ;oD
Paty

Ale Quejinho disse...

Nossa que blog mais lindo. Minha primeira vez por aqui e ja estou amando. Sou nova neste mundo e vim deixar um convite para visitar meu cantinho. Se gostar, me siga que ficarei honrada.
Ale

SANDRA disse...

Amiga,

Hoje não consegui dormir, alguns dias me acontece isto e vejo o sol nascer..daí saio pelos blogs dos amigos....vou atrás de tudo que não li, que adoro, e que está atrasado para ser lido e apreciado....
Amei teu post, me deu uma SAUDADE imensa de minha mãe...
Posso copiá-lo e colocar no meu blog??Te darei os devidos créditos!

Beijinhosssssssss

Anônimo disse...

Oi Euzinha,
Adoro o Carpinejar e sempre acho que as coisas que ele diz calam fundo no nosso coração. São verdades ditas de forma poética. Tenho pessoas queridas que também se foram e não tenho vontade de esquecê-las as lembranças amenizam a saudade.
O texto é lindo.
Gostei do seu cantinho, vou ficar tá ??
beijos e bom domingo pra você.

Fernanda Reali disse...

Amei o post e estou louca para chegar a minha vez de ler este livro.
Beijoooo